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A mim não me serve o silêncio...

    Hoje deixo a minha poesia de lado, a repousar sobre o Amor com que sempre a cubro, para abusar do meu dever cívico e moral.
    Para aqueles que ainda não sabem, dia 25 de Novembro é o dia Internacional contra a violência doméstica, e eu como mulher e cidadã do mundo sinto-me na obrigação de acrescentar mais algumas linhas ao tema, porque não me serve o silêncio, e porque me agita a alma quando penso nesta realidade.
   Me desculpem a imagem, talvez não seja das mais ilustrativas sobre o assunto em foco, mas impossibilita-me a minha sensibilidade de escolher outras, sempre que queira conspurcar este espaço que seja com retratos de amor e de desejo e não com representações da pobreza humana.
   Me iriça até os pelos que não tenho, quando penso nos desrespeitos pela vida humana sejam eles quais forem, em que o forte por assim se julgar (mas não sendo) usa, abusa, humilha e violenta os denominados mais fracos, mas que de todo não o são, eu prefiro o termo indefesos porque lhes dá a dignidade que merecem.
  Muito se fala de evolução, mas pergunto-me por onde ela anda nestes casos, quando vejo gente se comportar pior que primatas, pior que animais...onde está ela quando vejo a justiça dita cega, olhar e virar a cara...onde está ela quando se confunde confiança com poder...que evolução disfarçada essa nossa, quanta hipocrisia é salivada para esconder o mau gosto da vergonha. Que tristeza eu sinto em mim e quanta revolta me invade sempre que tenho de constatar, que afinal a mediocridade ainda faz braço de ferro com a honra e muitas vezes leva a vitória.
  Quando se fala de violência doméstica incorre-se no erro de lembrar apenas o sexo feminino como vitima desta barbárie, mas não esqueçamos jamais de homens, crianças e idosos que infelizmente também são alvo deste crime hediondo.
   Pessoalmente nunca tive contacto directo com esta realidade, em toda a vida tenho tido o prazer de privar com gente que apesar dos seus defeitos mundanos, são pessoas que dignificam a raça a que pertencem. Porem admito, sem medo de chocar, que se alguma vez me tivesse visto a braços com uma situação em que a violência doméstica estivesse presente, em breve ela viraria passado, e o mais provável é que hoje vos escrevesse de um centro prisional qualquer sem vergonha ou culpa pelos meus actos. Me perdoem a franqueza, mas entre a vida ou a morte, eu escolho mil vezes a vida, a qualquer custo, mesmo que esta me pudesse roubar a liberdade...Para me defender a mim e aos que amo eu abdico facilmente da razão e torno-me um animal selvagem desprovido de alma, que Deus nessa altura tenha piedade de mim e dos que ousarem, cruzar com a sua maldade o meu caminho.
  Nunca se calem as vozes, nem nunca se poupem os actos que conduzam à liberdade das vítimas deste crime...sejamos merecedores da vida que nos entregaram...
  Que os abusos de confiança com o rosto de cobardia tenham todos fim, seja pela mão indefesa daqueles a quem a sorte faltou, ou por terceiros que não se demitiram das suas obrigações cívicas e morais. Busquemos a paz de espírito alheia ao mesmo tempo que resgatamos a nossa, porque só assim faz sentido...porque só assim deve ser...
  Fica ainda aqui, para além do meu desabado, o meu respeito e a minha solidariedade, para com aqueles que infelizmente viram ou vêem, as suas vidas devassadas por actos de tamanha deslealdade. 

*** Ártemis ***
          

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